Aristides Araújo

VERSOS CAÓTICOS

- Beethoven –


Calam-se os sons exteriores

E se extravasa

Em todo o seu poder,

O inato lirismo

Da sinfonia da vida!

A festa da alegria

unindo seres e coisas.

Abre a imensa,

Eterna temporada

Do cântico dos cânticos

À gloria do CRIADOR!

Agora é o silêncio

Após o último trovão

Das tempestades humanas...

A paz cascateante

Entre as frinchas dos caminhos,

Deixa suspensas no ar

Eternas perguntas cíclicas!


Aristides Araújo

Dez. 1979


DIVAGANDO


A vida e os livros pouco a pouco

Vão me deixando entrever mistérios

Esmagadores... A agonia da tarde...

Pablo Neruda

Falha memória

Estende a sombra

Do esquecimento

De coisas e amigos.

Esfrego os olhos

Tentando ver

Como outrora via.

Mas não desagrada

Essa tortura

Dos vãos desejos:

“A afonia da tarde”

Deixa entrever

Outras dimensões

De misteriosos

Amanheceres

Do rio da vida!


Aristides Araújo

Set. 1977


POR QUE TEMER?

Temo que não resista

Ao mar de fogo.


(De “A NAVE” de Telmo Padilha)


Ungido do Senhor, aos teus discípulos

Dos primeiros dias

Não nasceram sabendo;

E tu mesmo os disseste

Ainda incapazes

De alimentação de adultos;

E o Paráclito

Lhes foi prometido

Para ensinar-lhes

E aos que “andam longe”

Todas as coisas,

Até o fim

Do sem fim dos tempos.

E quem está ao leme

E na casa de máquinas

Não és tu, ó Cristo de Deus?

Por que temer-se

O naufrágio da Nave

No “mar de fogo”

Depurador

Do gradativo

Aprendizado eterno?...


Aristides Araújo.

Novembro / 1978.