AGOSTINHO JOSÉ MUNIZ

Fragmentos de uma vida educacional e poética


Nasceu em 10 de fevereiro de 1901, na cidade de Juazeiro-BA, o dono de uma memória admirável: Agostinho José Muniz, filho de José Mariano Muniz e Josefa de Souza Muniz. Na infância, sempre alcançava o primeiro lugar nas aulas e se destacava, admiravelmente, quando o assunto era história do Brasil e Ciências Naturais. Agostinho concluiu o curso primário na escola do professor Luiz Cursino da França Cardoso, mas desejava continuar os estudos. Para isso, começou a trabalhar no comércio de Juazeiro e à noite, estudava as matérias do curso ginasial, para ingressar no Colégio Estadual da Bahia, na capital, Salvador.

Com muito esforço e dedicação, Agostinho deixou a cidade de Juazeiro para ir estudar o curso secundário e trabalhar em Salvador. Mais tarde, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia. Entretanto, cursou apenas o primeiro ano de Medicina, pois, como estudava durante o dia e trabalhava à noite, teve a saúde abalada e não pode prosseguir. Como não conseguia se desprender dos estudos contínuos entregou-se de corpo e alma à carreira do magistério.

A partir de então, Agostinho Muniz começou a sua vida de professor primário em Salvador. Porém, o seu grande desejo era lecionar na sua terra natal e, por isso, regressou a Juazeiro e fundou a sua primeira escola primária. Embora lecionando para o curso primário, desejava fundar um curso ginasial em Juazeiro. Com muito esforço o professor conseguiu iniciar a construção de um prédio no qual seria instalado o ginásio, no entanto, ele não conseguiu apoio financeiro dos poderes públicos e a construção não passou de um alicerce.

Além de um dedicado professor, Agostinho José Muniz foi um estudioso das leis trabalhistas e introdutor do direito do trabalho no Fórum de Juazeiro. Foi, portanto, um grande advogado dos pobres e da classe trabalhista. Fundou o Partido União Trabalhista Juazeirense e, meses depois, o jornal “O Trabalho”, do qual foi redator e, por esta razão, muitas vezes preso. Além disso, em 1950, candidatou-se a vereador de Juazeiro, foi eleito, e permaneceu na Câmera de Vereadores da cidade, no período de 1951 a 1955. Entretanto, a política foi decepcionante para ele.

Contudo, esse envolvimento na esfera política permitiu que Agostinho retomasse os seus planos de instalar o Ginásio em Juazeiro, assim, ao lado de outros, conseguiu fundar o Colégio Ruy Barbosa. Foi o primeiro diretor do Colégio e, com muito esforço (pois, muitas vezes, saia pelo comércio e pelos Bancos da cidade pedindo dinheiro emprestado para pagar os professores, até que recebesse algum auxílio do governo), conseguiu manter as portas abertas para a classe menos favorecida do município.

Dedicou-se muitos anos ao Ginásio Ruy Barbosa, mas, quando menos esperava, do cargo na direção passou a exercer apenas a função de simples professor. Agostinho Muniz não resistiu a isso, isolou-se de tudo, ficou muito doente e veio a falecer em 10 de janeiro de 1960. A maior parte da sua vida foi destinada à educação e as boas causas sociais, mas não teve esta restrição. Agostinho José Muniz, além de uma inteligência e memória admirável, trazia consigo o dom da poesia.

PROFISSÃO DE FÉ

Capitólio longínquo, onde quer que demores
Um dia hei de alcançar-ter, do meu ideal ao fim...
Que não me falta a fé, nem me falece ardores,
Não me conduza, embora, em áureo bergantim.

Não por palmas, lauréis, púrpura, sólidos, sólios, flores,
Sagrações pessoais, ou pedestaes de marfim...
Mais a vida da Idéia – a Obra cheia de esplendores,
Tal qual mente a sonhei e a sinto dentro de mim

Hei-de vê-la surgir, alevantar-se e erecta,
Florescer, a dar frutos, influindo directa
Em mais altos ideaes da moça geração

Que não quero outra glória e nem sonho outro feito
E nem pode viver no estreito do meu peito
Mais elevado anseio, mais larga aspiração [sic].

Agostinho José Munis.



Poesia publicada no Jornal “O ECHO”, datado de 16 de Maio de 1931.


Por Edilane Ferreira
Fonte: O arquivo de Maria Franca Pires: memória e história cultural na região de Juazeiro-BA.

OLAVO BALBINO OU OLAVO BALBYLO


Fragmentos da vida de Olavo Balbino

O professor Olavo Balbino, nasceu em 4 de dezembro de 1891 na cidade de Salvador-BA. Filho do comerciante da capital baiana, João Tavares da Silva, e de Julia Máxima Balbino, Olavo veio se estabelecer na cidade de Juazeiro, ainda na infância. Nesta época, o garoto teve paralisia infantil e, desde então, veio a puxar da perna esquerda.
Começou a trabalhar cedo. Aos 15 anos de idade já trabalhava na arte gráfica. Também foi bastante influente na área jornalística, envolveu-se com os jornalistas e poetas, José Petitinga e Joaquim de Queiroz. Além disso, Olavo foi sócio de Souza Filho na parte econômica do jornal, “Correio do São Francisco”.
Casou-se com a jovem Anísia da Costa Balbino, teve nove filhos, e inúmeras crianças estimadas por ele, devido à sua profissão. Olavo foi um professor de grande fama e conceito, que muito contribuiu para a educação juazeirense. Fundou o “Colégio Aprígio Duarte Filho”, por meio do qual preparava os alunos até o quarto ano primário e, depois, dava um curso especial, para que estes fizessem o exame de admissão em Salvador.
O professor conseguiu com o grande jornalista Aprígio Araujo, no seu semanário “O ECO”, uma das subdivisões titulada “Coluna Infantil”, afim dos alunos explanarem suas idéias. “Diante do calafrio que se apodera do orador neófito, mandei construir uma tribuna para que os meus alunos pudessem treinar todas as noites, afim de aprenderem a arte da declamação pública. Os loiros alcançados excederam à minha expectativa”, confessou Olavo em seu “Manifesto a Juazeiro”.
Olavo Balbino fazia o máximo para que os alunos treinassem a oratória, ensinava, pois, o modo de gesticular e as entonações vocais necessárias. No seu colégio mantinha vinte e poucos alunos pobres, gratuitamente, e solicitava às Lojas Maçônicas livros e papéis para estes alunos. Ele fundou uma caixa Escolar particular (a primeira fundada em Juazeiro), e, com o numerário arrecadado, ofereceu roupas, calçados e chapéus aos seus alunos pobres. Muitos desses conseguiram ser diplomados, alguns, alcançaram cargos de destaque nas repartições públicas, e outros, tornaram-se comerciantes, comerciários e operários.

Olavo Balbino: professor e poeta

Além de um ilustre e afeito professor, Olavo Balbino, embora não tenha se dedicado tanto à poesia como o poeta Raul da Rocha Queiroz, também escreveu poesias de grande valor literário. As poesias do professor eram publicadas em periódicos da região, como o jornal “Correio do São Francisco” e jornal “O Eco”, nos quais colaborou também com trabalhos jornalísticos. A poesia a seguir foi publicada em 27 de novembro de 1908, no jornal “Correio do São Francisco”.

Tú és linda, Petit
Não me jures assim
Pois eu morro por tí
E não morres por mim

Se tú amas, Petit
P’ra que fazer assim?
Eu não morro por tí
E tu morres por mim

Os que se amam. Petit
Dizem sempre é assim
Eu não morro por tí
E tu morres por mim [sic].


Juazeiro, 27-11-1908 – Olavo Balbino

Além das publicações em periódicos, Olavo Balbino escreveu rascunhos de poesias que pretendia publicar em um livro denominado “Paliçada”, entretanto, só chegou a publicar os dois sonetos e a quadra que segue adiante:

“NATAL”

Jesus! amparai o nosso lar,
Nesta manha de alegria,
O vosso benévolo olhar,
Contenta-se neste dia!

Salve! Salve! Oh Ano Novo
Que seja muito abundante
E o nosso labor insano
Compensado...edificante

Cristo nasceu! Que alegria
Cantemos hinos de prazer
Para o bom Mestre enaltecer

Gloria! Gloria! ao Nazareno
Com muita crença e fervor
Vinde em nosso auxílio, Senhor [sic].

Olavo Balbino -1952

“CRISTO”

No belo altar da mansão divina
Anjos entoam hinos de gloria,
Àquele de vida perigrina
Bem nos mostra o padrão da história

Aquí, com seu verbo dominante
Amenizava dôres do mendigo;
Alí, curava o agonizante;
Acolá, o cégo do perigo!

Cumprira a missão predestinada,
Com sofrimento do seu destino
A fé, esperança, caridade

Em que lhe dera esta jornada,
Jamais se afastara do seu tino,
De redimir a humanidade [sic].

Olavo Balbino – 1925

“O BENTIVÍ”

Que tens meu bentiví
A este lado caladinho
Tão triste nunca te ví
Oh! meu pobre passarinho

Vem a mim e me confessas,
Bem baixinho a tua dor
Inda que não me peças
Farei preces ao Creador

Ao sair, um amiguinho
De repente entristeceu
E o pobre passarinho
Ruflou as pernas, morreu!... [sic].

Olavo Balbino – 1925.

O professor e poeta passou a assinar o seu nome como Olavo Balbylo, e não mais Olavo Balbino. “Declaro para todos os fins, que desta data em diante, assinar-me-ei OLAVO BALBYLO e não OLAVO BALBINO, conforme vinha firmando meus documentos públicos, oficiais e particulares”. Contudo, percebe-se que as poesias citadas acima foram, ainda, assinadas com o nome de batismo do poeta. Olavo Balbino ou Olavo Balbylo, faleceu em 5 de abril de 1956, na cidade em que ele tanto contribuiu para o crescimento intelectual: Juazeiro-BA.



Por Edilane Ferreira, bolsista do projeto “A arte das letras como manifestação cultural na reconstituição da história regional em Juazeiro-BA”, que está associado ao projeto “O arquivo da professora Maria Franca Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”, fonte desta publicação.

O POETA JOAQUIM LUIZ DE QUEIROZ

Tio do grande poeta juazeirense, Raul da Rocha Queiroz, Joaquim Luiz de Queiroz nasceu em 6 de agosto de 1880, na cidade de Casa Nova, no estado da Bahia. Apesar de não ser natural da cidade de Juazeiro, Joaquim de Queiroz viveu muitos anos neste município e contribuiu, por meio do universo literário, na construção da memória e cultura histórica desta região. Foi católico nos primeiros anos de sua vida, depois passou a ser espírita fervoroso, assim como o seu amigo e poeta, José Petitinga.
Faleceu em Salvador, um dia depois de comemorar a sua quadragésima quarta primavera. Joaquim Luiz de Queiroz foi um grande poeta, tal qual a sua produção literária, que chegou a ser publicada em revistas de Paris. Este ilustre poeta não teve filhos, pois não casou, mas deixou um legado literário belíssimo, como fruto da sua passagem nestas terras ribeirinhas. Sua passagem pela vida foi curta, ficaram suas poesias:
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RECEBE-OS!...
.
Estes meus versos , querida, ao lê-los,
Navegam todos, por entre escolhos,
Na noite escura dos teus cabellos
No dia claro desses teus olhos!
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No mar dos sonhos, coitados,
a toda velocidade...
Nos teus cabelos, que escuridão!
Mas nos teus olhos, que claridade!
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No barco frágil dos meus amores,
De encontro às vagas, vão, submersos,
Sonhando glorias, carpindo dores,
Estes meus pobres e tristes versos.
.
Que porto buscam elles, então,
No mar dos sonhos assim correndo?-
Buscam chegar ao teu coração
Para contar-te o que estou soffrendo.
.
Nas ondas bravas, ao forte açoite
Da tempestade que os contraria...
teus cabellos é meia noite!
Mas nos teus olhos é meio dia!
.
Evoco a musa da Inspiração
Para que façam feliz viagem,
E elevo os olhos para a amplidão,
Pensando sempre na tua imagem!
.
Estes meus versos, querida, ao lêl-os,
Navegam todos, por entre escolhos,
À meia noite dos teus cabellos,
Ao meio dia desses teus olhos!
.
(Joaquim de Queiroz, 1911).
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MORRENDO E VIVENDO
A Antonio Vargas
.
Não nasci p’ra viver; nasci p’ra andar morrendo.
E, sem morrer de vez, morrendo a cada instante,
Quando me julgo morto, eis-me que estou vivendo,
Quando penso viver, me prosto agonizante.
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Da vida para a morte, assim, sendo e não sendo
E da morte p’ra vida a ressurgir constante,
Eu morro sem querer e vivo não querendo,
De diante para traz, de traz para diante.
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Ora me sinto fraco, ora me encontro forte,
E nesse atroz labor, nessa incessante lida,
Não tenho amor à vida, horror me causa a morte.
.
Em rápida ascensão ou em veloz descida,
A sorte me procura e em vão procuro a sorte
E a minha própria morte é a minha própria vida.
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(Joaquim de Queiroz, Remanso – 1913)
..

RAUL DA ROCHA QUEIROZ

A vida e a obra poética de Raul da Rocha Queiroz foi marcada por tristezas e desamor. O poeta nasceu em 5 de janeiro de 1891, na cidade de Juazeiro-BA. Seu pai, Antônio Luis de Queiroz, foi um grande político em Juazeiro, gozava de grande conceito social e vivia muito bem economicamente. Devido a isto, Raul, na juventude, tinha tudo em suas mãos: mocidade, inteligência, conceito e dinheiro. Aos 18 anos o vate dava seus primeiros passos na poesia, publicou o soneto “Meu Amor”, dedicado às Magnólias, no jornal Correio do São Francisco.


“MEU AMOR”

A minha amada é formosa,
Tão linda como uma flôr,
Traz nas faces uma rosa,
No coração meu amor.

A sua boca mimosa,
Formada de rubra côr,
Repete sempre ditosa,
Incessante - meu amor

Os proprios anjos se vissem,
Tão linda flôr de candura,
Diriam se não mentisse,

Que não sabiam fitar.
A essa linda creatura,
Sem vontade de beijar.
29-10-1909

“Para as Magnolias”

Como a estrada da vida sempre reserva surpresas, com o poeta não foi diferente. Com sua cabeleira cheia, posição social, dinheiro e inteligência, logo o jovem poeta se tornou amante da vida boêmia. Nesse período, em que a bebida começava a dominá-lo, Raul da Rocha Queiroz apaixonou-se perdidamente pela jovem Olímpia de Souza, e, mesmo sem o consentimento dos pais, casou-se com ela. A partir deste momento, a vida de Raul desabou e, desde então, foi traçada por traições, tristezas, desilusões e pelo alcoolismo exacerbado. Com Olímpia, Raul teve dois filhos que, infelizmente, não vingaram. A história deste casamento resultou em três sonetos que retratam bem o sofrimento e desengano do vate juazeirense:


“NOIVADO”

Éramos noivos, mutua amizade
Nos enchia de graça e de ventura
Eu lhe beijava a boca com doçura
Ébrio do amor e de felicidade

Ela cheia de gôzo e de ternura,
Beijava-me também com ansiedade,
Abraços... beijos... sonhos... realidade
Promessas, esperanças e loucuras.

Deixar de nos amarmos? Nem os céus,
Nem conselhos de pais; o próprio Deus,
Deste pensar não nos demoveria.

Só uma ideia fixa ao pensamento,
Era o dia do nosso casamento,
Dia ditoso, venturoso dia.

“CASAMENTO”

Nos casamos, porém nossa ventura,
Foi de curta, de pouca duração,
Minha escolhida não comprira a jura,
Que fez de dar-me, todo o coração.

Foi um infeliz, de desventura,
De perfídia, de horror, de traição,
Todo amor, transformou-se em amargura,
E meu lar se tornou em solidão.

E ela deixou-me abandonado e só,
Carpindo as maguas de um tormento infindo,
Desprezado de todos como Job...

Eu fui sozinho e triste caminhando,
Pela estrada do amor, ora caindo,
Caindo aquí e alí me levantando.

“ADULTERIO”

Eis da jornada o termino final,
Urzes somente achei pelos caminhos,
Toda bondade transformada em nada,
As flores transformadas em espinhos.

Tive um sonho de moço e o meu ideal,
Feito de amor e feito de carinhos,
Transfiguram-se uma pá de cal.
Na sepultura, meus dois filhinhos.

E o que foi da mulher amada?
Não sei se ela é feliz ou desgraçada,
Na vida que abraçou sem luz, sem fé.

No meretrício vende a carne impura,
E há de acabar-se louca de amargura,
Como a devassa mãe Salomé.


Doravante, a solidão, a tristeza, o copo de cachaça e a pobreza, passaram a ser a única companhia de Raul, pois, nesta época, seus pais já haviam falecido e o fracasso financeiro começava a lhe rondar. Raul de Queiroz começa a andar de bodega em bodega, em busca do alívio que apenas a bebida podia lhe proporcionar. Escrevia seus versos nestes ambientes, em papéis de embrulho que, muitas vezes, serviam “para embrulhar um pedaço de rapadura ou um quilo de feijão”. Ninguém dá valor a um ébrio, mesmo este sendo culto e inteligente.

Assim foi a vida errante e poética de Raul. Viveu deste modo, até o dia em que Olímpia morreu e ele teve a certeza de que não a veria mais. Com a morte de sua esposa, Raul melhorou de vida, moderou na bebida e deu uma nova oportunidade a si mesmo: contraiu núpcias, com a jovem Raimunda Lopes, com quem foi feliz, até o ultimo dia de sua vida. Raimunda foi uma esposa leal, sincera e amiga. Neste segundo matrimônio, teve dois filhos: Benedito e Benedita da Rocha Queiroz. Foi esta, a fase mais feliz da vida deste poeta, e a de maior produção literária também. O soneto “O Gênio” é considerado por muitos, a sua melhor produção.


“O GENIO”

Sou eu quem domina o mundo,
Com m’or desprezo profundo,
Sorrindo à sua desgraça!
E todos de mim tem medo,
Falando baixo em segredo,
Horrorizados, sem graça.

Sou altivo, nobre, forte,
Rio-me, às vezes, da morte,
E a morte foge de mim!
Sou um grande, um potentado;
Por isso sou respeitado
De todos, de tudo enfim.

Poeta, sou o primeiro,
Não temo Guerra Junqueiro,
Nem Castro Alves, também.
Junto de Olavo Bilac,
Sou figura de destaque
De todos eu fico além.

Perto de Arthur de Azevêdo,
Junto a Manoel de Macedo,
Sou romancista sem par;
Diversas obras criei,
O Guarani inspirei,
Ao romancista Alencar.

Na musica, divina arte
Sou maior do que Mozart,
Vulto bem cheio de Glória.
Carlos Gomes, no Brasil,
Se cantou vitorias mil,
Foi eu quem lhe deu memoria.

C’o a inteligencia pomposa,
Do embaixador Ruy Barbosa,
A minha pôs-se em relêvo.
Lutei sem mêdo, bem franco,
Como o egrégio Rio Branco,
Cérebro cheio do relêvo.

Nas guerras sou destemido,
Nunca do inimigo vencido,
Desterrei Napoleão.
Nas ciências, sou Hipocrates!
Como filósofo, sou Sócrates;
Em saber, sou Salomão.

Sou eu quem domina o mundo,
Com tal desprezo profundo,
Com o olhar pôsto nos céus.
Sou eu ao sol quem dá luz,
Grande estrêla que reluz,
Eu sou o GENIO, sou DEUS.

Juazeiro, 28 de abril de 1913


A publicação tem como fonte “O Arquivo de Maria Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”. As poesias foram transcritas com a ortografia da época, para preservar a característica do século XX, e dividida em três momentos da vida e da produção de Raul: Antes do casamento, durante o casamento e após o 1º casamento; pois, foram os momentos que marcaram a produção literária do poeta juazeirense, Raul da Rocha Queiroz.