A vida e a obra poética de Raul da Rocha Queiroz foi marcada por tristezas e desamor. O poeta nasceu em 5 de janeiro de 1891, na cidade de Juazeiro-BA. Seu pai, Antônio Luis de Queiroz, foi um grande político em Juazeiro, gozava de grande conceito social e vivia muito bem economicamente. Devido a isto, Raul, na juventude, tinha tudo em suas mãos: mocidade, inteligência, conceito e dinheiro. Aos 18 anos o vate dava seus primeiros passos na poesia, publicou o soneto “Meu Amor”, dedicado às Magnólias, no jornal Correio do São Francisco.
“MEU AMOR”
A minha amada é formosa,
Tão linda como uma flôr,
Traz nas faces uma rosa,
No coração meu amor.
A sua boca mimosa,
Formada de rubra côr,
Repete sempre ditosa,
Incessante - meu amor
Os proprios anjos se vissem,
Tão linda flôr de candura,
Diriam se não mentisse,
Que não sabiam fitar.
A essa linda creatura,
Sem vontade de beijar.
29-10-1909
“Para as Magnolias”
Como a estrada da vida sempre reserva surpresas, com o poeta não foi diferente. Com sua cabeleira cheia, posição social, dinheiro e inteligência, logo o jovem poeta se tornou amante da vida boêmia. Nesse período, em que a bebida começava a dominá-lo, Raul da Rocha Queiroz apaixonou-se perdidamente pela jovem Olímpia de Souza, e, mesmo sem o consentimento dos pais, casou-se com ela. A partir deste momento, a vida de Raul desabou e, desde então, foi traçada por traições, tristezas, desilusões e pelo alcoolismo exacerbado. Com Olímpia, Raul teve dois filhos que, infelizmente, não vingaram. A história deste casamento resultou em três sonetos que retratam bem o sofrimento e desengano do vate juazeirense:
“NOIVADO”
Éramos noivos, mutua amizade
Nos enchia de graça e de ventura
Eu lhe beijava a boca com doçura
Ébrio do amor e de felicidade
Ela cheia de gôzo e de ternura,
Beijava-me também com ansiedade,
Abraços... beijos... sonhos... realidade
Promessas, esperanças e loucuras.
Deixar de nos amarmos? Nem os céus,
Nem conselhos de pais; o próprio Deus,
Deste pensar não nos demoveria.
Só uma ideia fixa ao pensamento,
Era o dia do nosso casamento,
Dia ditoso, venturoso dia.
“CASAMENTO”
Nos casamos, porém nossa ventura,
Foi de curta, de pouca duração,
Minha escolhida não comprira a jura,
Que fez de dar-me, todo o coração.
Foi um infeliz, de desventura,
De perfídia, de horror, de traição,
Todo amor, transformou-se em amargura,
E meu lar se tornou em solidão.
E ela deixou-me abandonado e só,
Carpindo as maguas de um tormento infindo,
Desprezado de todos como Job...
Eu fui sozinho e triste caminhando,
Pela estrada do amor, ora caindo,
Caindo aquí e alí me levantando.
“ADULTERIO”
Eis da jornada o termino final,
Urzes somente achei pelos caminhos,
Toda bondade transformada em nada,
As flores transformadas em espinhos.
Tive um sonho de moço e o meu ideal,
Feito de amor e feito de carinhos,
Transfiguram-se uma pá de cal.
Na sepultura, meus dois filhinhos.
E o que foi da mulher amada?
Não sei se ela é feliz ou desgraçada,
Na vida que abraçou sem luz, sem fé.
No meretrício vende a carne impura,
E há de acabar-se louca de amargura,
Como a devassa mãe Salomé.
Doravante, a solidão, a tristeza, o copo de cachaça e a pobreza, passaram a ser a única companhia de Raul, pois, nesta época, seus pais já haviam falecido e o fracasso financeiro começava a lhe rondar. Raul de Queiroz começa a andar de bodega em bodega, em busca do alívio que apenas a bebida podia lhe proporcionar. Escrevia seus versos nestes ambientes, em papéis de embrulho que, muitas vezes, serviam “para embrulhar um pedaço de rapadura ou um quilo de feijão”. Ninguém dá valor a um ébrio, mesmo este sendo culto e inteligente.
Assim foi a vida errante e poética de Raul. Viveu deste modo, até o dia em que Olímpia morreu e ele teve a certeza de que não a veria mais. Com a morte de sua esposa, Raul melhorou de vida, moderou na bebida e deu uma nova oportunidade a si mesmo: contraiu núpcias, com a jovem Raimunda Lopes, com quem foi feliz, até o ultimo dia de sua vida. Raimunda foi uma esposa leal, sincera e amiga. Neste segundo matrimônio, teve dois filhos: Benedito e Benedita da Rocha Queiroz. Foi esta, a fase mais feliz da vida deste poeta, e a de maior produção literária também. O soneto “O Gênio” é considerado por muitos, a sua melhor produção.
“O GENIO”
Sou eu quem domina o mundo,
Com m’or desprezo profundo,
Sorrindo à sua desgraça!
E todos de mim tem medo,
Falando baixo em segredo,
Horrorizados, sem graça.
Sou altivo, nobre, forte,
Rio-me, às vezes, da morte,
E a morte foge de mim!
Sou um grande, um potentado;
Por isso sou respeitado
De todos, de tudo enfim.
Poeta, sou o primeiro,
Não temo Guerra Junqueiro,
Nem Castro Alves, também.
Junto de Olavo Bilac,
Sou figura de destaque
De todos eu fico além.
Perto de Arthur de Azevêdo,
Junto a Manoel de Macedo,
Sou romancista sem par;
Diversas obras criei,
O Guarani inspirei,
Ao romancista Alencar.
Na musica, divina arte
Sou maior do que Mozart,
Vulto bem cheio de Glória.
Carlos Gomes, no Brasil,
Se cantou vitorias mil,
Foi eu quem lhe deu memoria.
C’o a inteligencia pomposa,
Do embaixador Ruy Barbosa,
A minha pôs-se em relêvo.
Lutei sem mêdo, bem franco,
Como o egrégio Rio Branco,
Cérebro cheio do relêvo.
Nas guerras sou destemido,
Nunca do inimigo vencido,
Desterrei Napoleão.
Nas ciências, sou Hipocrates!
Como filósofo, sou Sócrates;
Em saber, sou Salomão.
Sou eu quem domina o mundo,
Com tal desprezo profundo,
Com o olhar pôsto nos céus.
Sou eu ao sol quem dá luz,
Grande estrêla que reluz,
Eu sou o GENIO, sou DEUS.
Juazeiro, 28 de abril de 1913
A publicação tem como fonte “O Arquivo de Maria Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”. As poesias foram transcritas com a ortografia da época, para preservar a característica do século XX, e dividida em três momentos da vida e da produção de Raul: Antes do casamento, durante o casamento e após o 1º casamento; pois, foram os momentos que marcaram a produção literária do poeta juazeirense, Raul da Rocha Queiroz.
“MEU AMOR”
A minha amada é formosa,
Tão linda como uma flôr,
Traz nas faces uma rosa,
No coração meu amor.
A sua boca mimosa,
Formada de rubra côr,
Repete sempre ditosa,
Incessante - meu amor
Os proprios anjos se vissem,
Tão linda flôr de candura,
Diriam se não mentisse,
Que não sabiam fitar.
A essa linda creatura,
Sem vontade de beijar.
29-10-1909
“Para as Magnolias”
Como a estrada da vida sempre reserva surpresas, com o poeta não foi diferente. Com sua cabeleira cheia, posição social, dinheiro e inteligência, logo o jovem poeta se tornou amante da vida boêmia. Nesse período, em que a bebida começava a dominá-lo, Raul da Rocha Queiroz apaixonou-se perdidamente pela jovem Olímpia de Souza, e, mesmo sem o consentimento dos pais, casou-se com ela. A partir deste momento, a vida de Raul desabou e, desde então, foi traçada por traições, tristezas, desilusões e pelo alcoolismo exacerbado. Com Olímpia, Raul teve dois filhos que, infelizmente, não vingaram. A história deste casamento resultou em três sonetos que retratam bem o sofrimento e desengano do vate juazeirense:
“NOIVADO”
Éramos noivos, mutua amizade
Nos enchia de graça e de ventura
Eu lhe beijava a boca com doçura
Ébrio do amor e de felicidade
Ela cheia de gôzo e de ternura,
Beijava-me também com ansiedade,
Abraços... beijos... sonhos... realidade
Promessas, esperanças e loucuras.
Deixar de nos amarmos? Nem os céus,
Nem conselhos de pais; o próprio Deus,
Deste pensar não nos demoveria.
Só uma ideia fixa ao pensamento,
Era o dia do nosso casamento,
Dia ditoso, venturoso dia.
“CASAMENTO”
Nos casamos, porém nossa ventura,
Foi de curta, de pouca duração,
Minha escolhida não comprira a jura,
Que fez de dar-me, todo o coração.
Foi um infeliz, de desventura,
De perfídia, de horror, de traição,
Todo amor, transformou-se em amargura,
E meu lar se tornou em solidão.
E ela deixou-me abandonado e só,
Carpindo as maguas de um tormento infindo,
Desprezado de todos como Job...
Eu fui sozinho e triste caminhando,
Pela estrada do amor, ora caindo,
Caindo aquí e alí me levantando.
“ADULTERIO”
Eis da jornada o termino final,
Urzes somente achei pelos caminhos,
Toda bondade transformada em nada,
As flores transformadas em espinhos.
Tive um sonho de moço e o meu ideal,
Feito de amor e feito de carinhos,
Transfiguram-se uma pá de cal.
Na sepultura, meus dois filhinhos.
E o que foi da mulher amada?
Não sei se ela é feliz ou desgraçada,
Na vida que abraçou sem luz, sem fé.
No meretrício vende a carne impura,
E há de acabar-se louca de amargura,
Como a devassa mãe Salomé.
Doravante, a solidão, a tristeza, o copo de cachaça e a pobreza, passaram a ser a única companhia de Raul, pois, nesta época, seus pais já haviam falecido e o fracasso financeiro começava a lhe rondar. Raul de Queiroz começa a andar de bodega em bodega, em busca do alívio que apenas a bebida podia lhe proporcionar. Escrevia seus versos nestes ambientes, em papéis de embrulho que, muitas vezes, serviam “para embrulhar um pedaço de rapadura ou um quilo de feijão”. Ninguém dá valor a um ébrio, mesmo este sendo culto e inteligente.
Assim foi a vida errante e poética de Raul. Viveu deste modo, até o dia em que Olímpia morreu e ele teve a certeza de que não a veria mais. Com a morte de sua esposa, Raul melhorou de vida, moderou na bebida e deu uma nova oportunidade a si mesmo: contraiu núpcias, com a jovem Raimunda Lopes, com quem foi feliz, até o ultimo dia de sua vida. Raimunda foi uma esposa leal, sincera e amiga. Neste segundo matrimônio, teve dois filhos: Benedito e Benedita da Rocha Queiroz. Foi esta, a fase mais feliz da vida deste poeta, e a de maior produção literária também. O soneto “O Gênio” é considerado por muitos, a sua melhor produção.
“O GENIO”
Sou eu quem domina o mundo,
Com m’or desprezo profundo,
Sorrindo à sua desgraça!
E todos de mim tem medo,
Falando baixo em segredo,
Horrorizados, sem graça.
Sou altivo, nobre, forte,
Rio-me, às vezes, da morte,
E a morte foge de mim!
Sou um grande, um potentado;
Por isso sou respeitado
De todos, de tudo enfim.
Poeta, sou o primeiro,
Não temo Guerra Junqueiro,
Nem Castro Alves, também.
Junto de Olavo Bilac,
Sou figura de destaque
De todos eu fico além.
Perto de Arthur de Azevêdo,
Junto a Manoel de Macedo,
Sou romancista sem par;
Diversas obras criei,
O Guarani inspirei,
Ao romancista Alencar.
Na musica, divina arte
Sou maior do que Mozart,
Vulto bem cheio de Glória.
Carlos Gomes, no Brasil,
Se cantou vitorias mil,
Foi eu quem lhe deu memoria.
C’o a inteligencia pomposa,
Do embaixador Ruy Barbosa,
A minha pôs-se em relêvo.
Lutei sem mêdo, bem franco,
Como o egrégio Rio Branco,
Cérebro cheio do relêvo.
Nas guerras sou destemido,
Nunca do inimigo vencido,
Desterrei Napoleão.
Nas ciências, sou Hipocrates!
Como filósofo, sou Sócrates;
Em saber, sou Salomão.
Sou eu quem domina o mundo,
Com tal desprezo profundo,
Com o olhar pôsto nos céus.
Sou eu ao sol quem dá luz,
Grande estrêla que reluz,
Eu sou o GENIO, sou DEUS.
Juazeiro, 28 de abril de 1913
A publicação tem como fonte “O Arquivo de Maria Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”. As poesias foram transcritas com a ortografia da época, para preservar a característica do século XX, e dividida em três momentos da vida e da produção de Raul: Antes do casamento, durante o casamento e após o 1º casamento; pois, foram os momentos que marcaram a produção literária do poeta juazeirense, Raul da Rocha Queiroz.